quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Eduardo Campos: Não abrimos mão de fazer o partido crescer pelo País

Confira a entrevista realizada pela jornalista Luciana Nunes Leal e publicada no Jornal Estado de S. Paulo, nesta segunda-feira (10/09), com o governador de Pernambuco e presidente Nacional do PSB, Eduardo Campos.

Padrinho de Geraldo Julio no Recife, Campos diz que eleição municipal envolve temas locais, mas que apoiará Dilma em 2014.

Padrinho da candidatura do ex-secretário Geraldo Julio à prefeitura da capital pernambucana pelo PSB, o governador Eduardo Campos, presidente nacional do partido, entrou na campanha de rua na noite da última terça-feira e, em menos de 24 horas, já tinha feito um comício e duas caminhadas ao lado do afilhado. Presença constante na propaganda da TV, Campos esperou que Geraldo, que foi seu secretário de Planejamento e depois de Desenvolvimento Econômico, assumisse a liderança nas pesquisas antes de partir para o corpo a corpo.

A decisão de lançar candidato próprio do PSB custou a Eduardo Campos o fim do bom relacionamento com o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse ao Estado que o governador colocara o rompimento entre as duas legendas em 2014 na ordem do dia.
Eduardo Campos é presidente Nacional do PSB e governador de Pernambuco
Com a campanha, o senhor está convencido da impossibilidade de manter a aliança com o PT em Recife?

Com o PT dividido não tinha condição. Eu sempre dizia que a gente devia respeitar a precedência do PT para indicar o candidato, mas era fundamental que o PT construísse sua unidade.
Falei como um mantra durante mais de ano. O que aconteceu ampliou os traumas internos, e a gente não

podia ver a cidade passando por esse sentimento de descuido. A administração do atual prefeito foi extremamente atrapalhada por essas disputas, ele sofreu muito com isso. A disputa foi tão grave que deixou o prefeito fora da eleição, fez o deputado Maurício Rands, um quadro histórico do PT, renunciar ao mandato, deixar o partido, deixar nosso governo.

O afastamento do PT e do PSB se repetiu em outras capitais. Foi um efeito cascata?

Quem quiser contar uma história ligando todos os pontos talvez possa montar uma, duas, três, quatro histórias. Mas o fato é que eleição municipal envolve circunstâncias locais, muito próprias. Ela divide mais do que a conjuntura estadual e nacional.

Há uma tendência natural a disputas mais acirradas.

Os partidos querem formar suas bases, montar chapas de vereador, lançar um nome para eleições futuras. A história está cheia desses exemplos.

Ficam ressentimentos que podem se repetir em 2014?

Da nossa parte não. Em 2006 disputei eleição com Humberto (senador Humberto Costa, candidato do PT à prefeitura), e nem por isso deixamos de estar juntos no segundo turno, no governo, na chapa com Humberto candidato a senador em 2010. É próprio da disputa política. Nosso sentimento em relação a todos esses setores do PT é de muito respeito. Em cinco capitais nós apoiamos o PT, em duas o PT nos apoia. Temos que ter muito cuidado para não entrarmos no jogo de muitos que querem fazer da eleição municipal um veredito para nossa relação nas próximas décadas.

A aliança continua em 2014?

O papel que o PSB deve cumprir em 2014 é colocar a presidenta Dilma nas condições de fazer a disputa legítima pela sua reeleição. Agora, somos um partido que tem identidade, tem opinião, tem feito grandes governos. Queremos (fazer) crescer o partido, sim. É um direito do qual não abrimos mão.

O ex-presidente Lula planeja estar no Recife para fazer campanha para o candidato do PT. Isso pode acirrar a disputa?

O presidente Lula já está aqui fazendo campanha em um palanque muito mais poderoso que o tradicional, que é o da televisão.

 Encaramos a participação dele de maneira natural. Daqui a 30 ou 60 dias termina a eleição, e o Brasil continua precisando das ações dessas forças.


A coligação de Geraldo tem 14 partidos, todos da base da presidente.

Em Belo Horizonte, há uma disputa muito séria entre PT e PSB, com ataques mútuos. O senhor credita isso ao fato de lá o PSB estar com o PSDB?

Eleição é sempre acirrada, nem sempre se disputa no campo da razão. Tem dose de emoção, às vezes maior do que deve. Cabe a quem tem responsabilidade, experiência, dosar a emoção e direcionar para as coisas boas na campanha. Fiz campanha desde muito cedo e você nunca vai me ver atacando um adversário.

E já fui atacado de dar pena.

Já participei de várias atividades de campanha, agora comecei a ir para a rua. Geraldo faz a campanha muito bem, trouxe a eleição a bom patamar antes do horário eleitoral. Agora a meta é chegar em primeiro lugar no primeiro turno. É segurar, ir para a rua.

Qual é o significado da sua reaproximação de Jarbas Vasconcellos, um opositor muito duro de Lula e Dilma?

Quero lembrar que o PMDB de Pernambuco e o conjunto liderado por Jarbas sempre fizeram parte da Frente Popular. Tivemos um afastamento em 1992, houve disputa muito dura. Jarbas não fez ao PT nacional, ao presidente Lula e à presidenta Dilma dez por cento do que fez a mim. O fato é que as pessoas no Recife entenderam perfeitamente essa decisão que Jarbas tomou como um reencontro dele com a velha tradição da Frente Popular.

E o ex-presidente Lula compreendeu?

Eu comuniquei ao presidente Lula que havia conversas, Jarbas me pediu para fazer a ponte para prestar solidariedade e votos de restabelecimento ao presidente Lula. Eu discordo da posição de Jarbas em relação ao presidente Lula e à presidenta Dilma, e ele sabe disso.

A aliança com Jarbas não é mais um motivo de ressentimento do PT em relação ao PSB?

Tem municípios onde o PMDB de Jarbas está com o PT e ninguém fala nada. Jarbas, quando apoia o PT em Paulista e em Abreu Lima, não é uma afronta a Lula. Quando apoia Geraldo é um problema?


Luciana Nunes Leal do Jornal Estado de S.Paulo